O
ingresso de Eduardo Campos no rol dos presidenciáveis obriga o PT a sair da
“zona de conforto” e faz com que a presidente Dilma Rousseff seja mais atuante
na política no sentido de tirar oxigênio do PSB, destaca a coluna Entrelinhas,
do jornal Correio Braziliense, assinada pela jornalista Denise Rothenburg nesta
quinta-feira (14). Segundo ela, se Dilma é a candidata, não adianta deixar
apenas Lula cuidando desse “serviço”.
“Com
Eduardo Campos na estrada, tudo muda de figura. O governador não se considera
devedor de Dilma. Sob a sua ótica, foi ele quem ajudou a candidata de Lula em
2010, e não o inverso. Sendo assim, é ela quem deve a ele. Além disso, Eduardo
está convicto de que hoje não tem nada a perder desfilando como potencial
candidato”, comenta.
Confira
a coluna na íntegra:
A hora
da política
Até
aqui, 2013 vinha meio que “empurrado” pelas festas, pelo verão e pela tragédia
de Santa Maria que não para de doer no coração dos brasileiros. Agora, é hora
de tentar sair da letargia, tirar a fantasia, e sem subterfúgios ou maquiagens
carregadas, tocar a vida. Na política não é diferente. Lá vêm a votação do
Orçamento, dos vetos, a gestão de Renan Calheiros no Senado, de Henrique
Eduardo Alves na Câmara… Em meio a tudo isso, avaliações sobre os
pré-candidatos a presidente da República dominam os bastidores. Em conversas
reservadas, os políticos observam os efeitos da pré-candidatura de Eduardo
Campos sobre o governo e o PT.
O
primeiro reflexo é tirar o PT e a presidente Dilma Rousseff da chamada “zona de
conforto”. Os palacianos consideram que, sem Eduardo taxiando na pista, está
tudo bem. Dilma é popular, tem uma base ampla e uma oposição restrita.
Portanto, não tem o que temer em relação a uma candidatura presidencial. Até
porque, na avaliação dos aliados da presidente, os adversários internos e externos
ainda não surgiram com força. Mas, com Eduardo Campos na estrada, tudo muda de
figura.
O
governador não se considera devedor de Dilma. Sob a sua ótica, foi ele quem
ajudou a candidata de Lula em 2010, e não o inverso. Sendo assim, é ela quem
deve a ele. Além disso, Eduardo está convicto de que hoje não tem nada a perder
desfilando como potencial candidato. Afinal, nem candidato à reeleição ele será
porque está no segundo mandato de governador. Ou seja, terminada a missão ali,
está livre e solto para voos mais altos.
Outra
história é quem está no poder e precisa de apoio para a reeleição. Daí, entram
não só 15 governadores como a própria presidente Dilma. Dos 15 governadores que
podem concorrer à reeleição, só dois são do PSB: Renato Casagrande (Espírito Santo)
e Ricardo Coutinho (Paraíba). Nos dois estados, o PT sozinho não tem hoje tanta
força para combater os socialistas. Logo, o PSB não tem muito a perder com a
candidatura de Eduardo.
Enquanto
isso, no PT…
O
mesmo não se pode dizer dos petistas e da presidente Dilma. Ela e alguns
candidatos a governador pelo PT são quem mais perdem com a entrada de Eduardo
Campos no rol dos presidenciáveis. No Distrito Federal, por exemplo, Agnelo
Queiroz perde logo de cara um aliado de peso, o senador Rodrigo Rollemberg.
Afinal, tanto Eduardo quanto o senador, que deve concorrer ao GDF, ingressam na
pré-campanha no lusco-fusco entre governo e oposição e, fatalmente, vão tirar
votos da atual base petista. Isso obrigará os petistas a remodelarem seu jogo,
se aproximando de forma mais contundente de todos os partidos da base aliada.
Dilma
passa a ter obrigação de se dedicar mais à política e, assim, tentar evitar que
Eduardo Campos conquiste os atuais aliados do governo. Conforme comentava um
deputado ontem comigo, ela terá que “ser mais presidente da República e
menos ministra da Casa Civil” - cargo que, para muitos espectadores distantes,
Dilma não largou até hoje. Muitos consideram que ela continua muito dedicada
aos projetos, deixando sua base meio solta. Daí, a avenida aberta para Lula
desfilar do jeito que gosta.
Mas,
no momento em que a candidata é Dilma, não adianta só Lula cuidar da política.
É preciso que ela passe a atuar mais nessa seara. Senão, avaliam alguns, poderá
ser engolida por Eduardo Campos, que já demonstrou capacidade de articulação. O
governador pernambucano não só elegeu o prefeito de Recife, como se reaproximou
do senador Jarbas Vasconcelos, abrindo uma trilha justamente na ala do PMDB que
não convive com o governo Dilma.
O
governador convive ainda muito bem com o PCdoB, com o PDT, os antigos aliados
do PT que andam meio cansados da hegemonia política do PT na esquerda e da
convivência com aquelas legendas que sobrevivem à custa do toma lá, dá cá e
desaguaram no mensalão. Não dá para esquecer que, quando Lula quase sucumbiu
naquele processo, foram o PCdoB, o PDT e o PMDB que lhe estenderam a mão. Os
petistas não querem correr o risco de ficarem restritos a partidos como o PTB,
o PP, o grupo majoritário do PMDB e o PR, que ensaia um retorno à base do governo.
Quer segurar ainda os aliados tradicionais. Se conseguirem, tiram um pouco do
oxigênio de Eduardo Campos, hoje, a maior pedra política no sapato de Dilma. Podem
apostar.
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